Netflix, a plataforma de streaming que mais lucrou com a indústria do anime em 2023, agora está investindo pesado em inteligência artificial com um novo projeto que promete revolucionar a animação e o cinema. De acordo com um relatório do grupo de pesquisadores de Netflix, Eyeline Studios, Brook University, University of Maryland e Stanford University, foi lançado o “Go-with-the-Flow”, uma tecnologia que permite controlar o movimento da câmera e dos objetos em vídeos gerados por IA.
Basicamente, com apenas alguns cliques, é possível dar vida a uma imagem estática ou até modificar um único fotograma para que se aplique a todo o vídeo, sem a necessidade de edição manual. Até agora, os exemplos mostrados envolvem a IA trabalhando sobre fotografias reais (ou seja, live-action, entre aspas), mas o próprio time responsável pelo projeto deixou claro que a intenção é expandir sua aplicação também para a animação.
Segundo o documento de pesquisa, a ideia é que essa tecnologia torne a produção de conteúdo mais acessível e barata, permitindo que qualquer pessoa possa criar vídeos de alta qualidade sem precisar de tantos recursos. E é aí que entra a controvérsia, já que também foi mencionado que “Go-with-the-Flow” é baseado em um modelo de IA treinado com milhões de vídeos, mas não há informações sobre de onde foram retirados os elementos usados para esse aprendizado. Isso claramente abre a possibilidade de que material protegido por direitos autorais tenha sido utilizado, levantando dúvidas sobre se a Netflix e sua equipe estão treinando a IA de maneira a infringir o copyright.
Esta não é a primeira vez que a Netflix demonstra interesse em usar IA na indústria do anime. Taiki Sakurai, chefe de produção de anime na plataforma e produtor de Cyberpunk: Edgerunners, tem falado abertamente sobre o assunto. Segundo ele, o Japão depende demais do trabalho manual e há tão poucos animadores disponíveis hoje em dia que a única opção é recorrer à IA. Em 2023, Sakurai afirmou que essa tecnologia poderia reduzir o tempo de produção de um filme de três anos para apenas um ano, diminuindo a equipe de 700-800 pessoas para apenas 100 membros.
Soa muito bem do ponto de vista do consumidor, mas para os trabalhadores, é uma ideia aterradora. De fato, a Associação de Animação do Japão (AJA) destacou que um “serviço global de streaming” (que se acredita ser a Netflix) não paga royalties e utiliza um modelo de pagamento único dividido em vários anos, algo que consideram injusto para os estúdios de animação. Menos animadores humanos e mais IA? Produções mais rápidas, mas com menos alma? O que você prefere?
